O cheiro que não volta

 O cheiro que não volta é o cheiro do tempo. Da página do livro novo, do livro velho sendo revisitado.

O cheiro da estrada seca de terra avermelhada ou da chuva fina no fim da tarde na selva de prédios. Do estojo, do bolinho no forno.

O cheiro que não volta é do tempo.

E a paz, será que volta? Será que temos tempo, agora, pra ela? A paz de dias livres, sem bips de mensagens, curtidas, comentários. A paz dos horários de expediente, do computador desligado, do off-line.

A paz que não volta mais é a do tempo.

Não vivi a revolução industrial, vivi a nossa. Das fitas cassete aos cds, dos pen drives às nuvens. Da vida privada aos perfis públicos. Das perguntas às pesquisas no Google.

O ontem virou post antigo de alguém low profile. E tudo precisa ser imediato.

O sentir espalhou-se no agora. E o agora se desfez no tempo, esse mesmo, que não volta.