Apagando estrelas



Ele pegou a mochila, a chave do carro, a carteira. Pegou o celular, o cansaço, e saiu. 
Ele pegou o dever cumprido de mais um dia, a meta do mês, os comprovantes das contas pagas. Pegou os alarmes do relógio, os e-mails não lidos, os pães à comprar no caminho. 
Uma por uma, cada pequena obrigação. 
Orgulhava-se por ser assim, tão certo, tão planejado. 
Anos e anos cumprindo. Anos e anos seguindo. 
Não tinha aventura ou novidade que lhe tirasse o ar, mas, pra que? Era essa a vida que conhecia, a que queria. 
Queria? 
Até que a conheceu. 
Ah, ela, sempre tão irregular! 
Era como um vento, cada hora pra um lado. 
Opaca e brilhante. Todo dia desconhecia. 
Ele continuava pegando, ela continuava sonhando, e eles se afastaram. 
Quantas estrelas se apagaram desde então, não se sabe. 
Ninguém contou.