Água


Luiza estava cansada.
Como uma criança que corre na chuva, deixou a água cair sobre sua cabeça sem senti-la.
Ficou ali, contemplando as gotas em seu corpo como se fossem capazes de reconstruir um pedaço que havia se quebrado.
Ligou o rádio para que o som inundasse seus pensamentos. Pôs-se a compor movimentos e abraçou o mundo com a ponta de seus pés. Magia em segredo - inexistente.
Pegou a caixinha e por horas, quieta, observou o móbile tocar a mesma canção de quando era criança. Mesma música que a trazia para perto, mesmo estando sempre tão longe.

[Não se interrompe alucinações - traz-se nelas o perigo da imaginação. Quando desfeitas, percorrem veias e assombram suavidades até diluírem-se em água - nada mais que água - a ser engolida pela areia da praia em uma tarde escura de inverno.]