Sem nome


Enquanto o sol se punha, migalhas de comida acumulavam pombas no chão. Entorno, o senhor deitado fingia dormir. 
Fingindo, esquecia. Dormindo, não via.  
Só um senhor miserável, sem casa, sem comida, sem moral, sem filho, sem pai. Sem nome. 
De companhia, só o cachorro e poucos objetos. Cobertor, garrafinha de pinga pra aquecer do frio da madrugada e uma caixa de papelão desmontada que servia como colchão. 
Tanta gente passando e ele ali, tão sozinho. Nunca era olhado, nunca podia olhar. 
Cabeça baixa pela vergonha. 
_Segura bem a bolsa! - disse a senhora que passava. Sem saber, ela não apenas segurava bem a bolsa, como a piedade que podia a diferenciar dos irracionais. 

[E o sangue que corria nas veias daquele homem em nada era inferior ao nosso.]