Todo dia de noite


Quarto escuro. Janelas fechadas, como eu.
Corpo quase nu, cama desarrumada, espelho escondido pela porta entreaberta.
Um copo de café pela metade, alguns livros abertos, um notebook em espera e um feixe de luz.
A cabeça latejando, a boca seca ansiando por um copo d'água, um pouco de paz.
Horas sem sono, manuscritos espalhados.
O braço dormente, a mente confusa, os olhos vivos e o peito apagado.
Escolhas, possíveis renúncias, possíveis ganhos.
A certeza da descrença, a necessidade da solidão. 
Firmo o semblante afugentando o choro.
Já é noite, e é agora que minhas mãos tecem o que de mais puro sabem fazer, enquanto minha alma assiste quieta a cena das linhas sendo escritas.

[corre, porque o dia talvez faça perder-se de si mesma
enquanto a chama espalha o fogo, atingindo-lhe os dedos]