Enquanto espero

 

Não tinha ideia de onde ele estava. Horas sem comer, beber ou dormir, só imaginando como poderia encontrá-lo. 

Há vezes em que um único acontecimento toma conta de nossas escolhas, das grandes às menores, sem deixar com que a gente pense em mais nada. 

Os dias que se seguiram foram assim; acho que já não sabia como viver de verdade. 

Quando se está no meio de uma tempestade muito grande, é preciso dar tempo ao nosso próprio corpo. 

Peguei no armário o primeiro vestido que vi. Fazia calor e creio que essa era a única sensação que podia sentir - tudo estava dormente. 

Nossas necessidades mais básicas, nossos instintos mais primitivos, todos intercalados por um tempo em que sobreviver parecia automático, enquanto as horas do relógio passavam sem qualquer controle. 

Numa distração, mordi o lábio. O gosto do sangue na boca por alguns instantes me trouxe de volta ao agora - dizer presente já não fazia sentido. 

Eu sabia que ele iria voltar. Sabia ou queria. Apostava, porque era o melhor a se fazer. 

Se eu ainda acreditasse, rezaria. Mas por ora eu só esperava. 

Como um cachorro amigo, sem se preocupar consigo. Eu apenas esperava. 

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