À noite

Colocou o livro na mesinha de cabeceira, junto com a luminária, os comprimidos e a caixa de lenços de papel. 

Apoiou a cabeça em seus dois travesseiros e se cobriu com o lençol de trezentos fios. 

Ligou o ar condicionado no máximo - gostava de ter o controle de alguma coisa. 

Tentava administrar o caos. 

Compreender a bagunça que a trouxe até aqui, talvez a fizesse encontrar o caminho de volta a si mesma. Mas isso a cansava tanto e de tal forma que precisava de tempo - recolher-se também se fazia abrigo. 

Era primavera e ansiava pelo verão. Pelas chuvas repentinas em todo fim de tarde, pelas gotas na janela e pelo cheiro das árvores. Seria bom ver o céu tão cinza quanto seu coração.