Coautor

Ainda que sejam elas, muitas vezes, inevitáveis e necessárias, tenho uma resistência profunda por tomar algumas decisões. Por torná-las realidade, já que, normalmente, estão interligadas a projeções incríveis que criei. É preciso muita força para assumir a destruição de um sonho.

Talvez isso esteja entrelaçado, de alguma maneira, ao ego, que quase sempre me faz acreditar que meus planos são o que há de melhor para mim. Mas como saber? A vida, em inúmeros casos, toma rumos desconhecidos ao alterar, repentinamente, o caminho que parecia seguir. Nos cabe, então, tentar se adaptar às surpresas do percurso, fazendo nosso melhor nas histórias que, embora sejamos autores de algumas linhas, dividimos a autoria com alguém/algo desconhecido. 

Mais do que pedir preparação e discernimento para entender os capítulos que virão, é importante estar atento para não ceder aos mesmos encantos, deixando-se admirar não apenas pelo que vemos ou tocamos, mas, também, pelo, por vezes, imperceptível, conforto de ser. 

Será que somos o resultado das nossas escolhas, ou estamos condicionados a tê-las de acordo com o que nos é apresentado como possível? Talvez não estejamos sendo capazes de ver além das hipóteses óbvias ou cabíveis. Talvez, também, esta seja uma boa argumentação para nossa falta de coragem. 

O que se sabe, de fato, é que o futuro chega - vez ou outra ocupando o espaço do que sempre se sonhou, outras vezes parte dele, e em outras tantas, trazendo um novo e surpreendente desfecho. Logo, levamos o cargo de autor, coautor ou expectador da nossa própria vida?