Dia quente de setembro e Maria colocou-se na janela a olhar a vida dos outros. Só Deus para saber seus pensamentos. Mas convenhamos, Ele tem mais o que fazer a adivinhar o que passa na cabeça das pessoas.
Em seu meio de vida, Maria não é nova nem velha. Já não tem a ansiedade da meninice, mas também não conquistou a calmaria da idade. É o meio e isso lhe incomoda. Veio dos extremos.
Por horas, poderia ficar ali, no alto do sétimo andar, observando a senhora sentada em frente a tv ou a família que toma café da tarde no quintal. Observar a vida em mais um dia, como todos os outros que passam depressa ou vagaroso no calendário.
Questiona a soberania do fato. O quão inevitável pode ser. O quão inquestionável é o tempo e suas ações, a ponto de ver qualquer coisa, por mais terrível que possa parecer, ir-se com o passar dos dias e tornar-se conformidade.
A cada situação que encontra, diz a si mesma: "o fato é soberano". E é.