Anos atrás, comprei um objeto de decoração para escritório. Paguei uma fortuna, do ponto de vista do meu salário de estagiária à época.
Era uma base e algumas "pedras", cada uma com uma palavra escrita, como "saúde", "amor", "sucesso". Dei de presente para um antigo namorado e, de fato, era a cara dele. Quando terminamos, me senti traída. Era como se todos aqueles desejos que fizemos juntos se perdessem no tempo. Fui até a sala dele - trabalhávamos juntos - e retirei a pedra que significava amor. Não tenho a mínima ideia do que fiz com ela, mas a mensagem foi bem clara.
Lembrei disso hoje, pensando em como queremos algo com uma profundidade que, quando percebemos ser esquecida ou sobreposta, agimos de forma intempestiva.
Não deveria ter recolhido a pedra. Ela que ficasse lá, que ganhasse outras formas. Eu é que deveria sair daquela base. E saí, mas demorei tanto.
Enfim, hoje quando revejo muitas atitudes do passado, percebo a maturidade que me faltou para entender que não preciso estar presente o tempo todo nas ações. O quanto são importantes o agir e o não agir. E isso nada tem a ver com esperar. É não agir mesmo, deixar pra lá, evitar a fadiga.
Saber recomeçar é virtude de poucos.
Desde esse tempo, recomecei muitas e muitas vezes. Creio que esta tenha sido apenas a primeira vez em que tive que lidar com determinações que não dependiam apenas de mim. Com a tal da frustração.
A pedrinha do amor, jogada, escondida, ou seja lá onde tenha ficado, era só uma pedra. A vida seguiu. A vida sempre segue. Com ou sem pedra.
Outros amores vieram. Eles vêm e vão quando precisam ir.
É o vaivém das coisas alertando que nada é duradouro se até a vida é passageira.
Me tornei uma pessoa mais livre depois disso. Depois de saber que nenhum dia ou noite mal sucedidos determinam o que virá depois.