Mais alguns anos


Alguns anos.  

A lógica do tempo que dura exatamente o que tem que durar. Sem por ques, sem respostas. Sem teses, teorias ou frases de efeito que amenizem. Sem planos que façam os erros serem perdoados e sem moral da história. Só a vida, a que temos, a que merecemos, a que seguimos. 

Sem distrações que nos façam perder o fôlego, pra isso vem a idade. Sem impulsos, sem mentiras, sem verdades doídas. Só o vazio, esse vão onde ficam todas as coisas que esquecemos. Só o ano, ou os anos, apagados na lembrança, nas fotos e no coração. No lugar, a cicatriz. Dura amostra de que o apagado existiu, e foi tão bom que tirá-lo a força doeu profundo. Para toda marca, uma nova escolha. O novo que sorri todas as manhãs. 

Mas, será mesmo que o novo consegue superar o que de mais escuro trazemos dentro da gente? Será que a luz extingue o que à noite aconteceu? Ou será que até o dia mais bonito tem um pouco do tudo que absorveu? 

Uma esponja velha cheia de buracos, ou uma nova folha cheia de espaços. Não sei, talvez alterne. Um dia esponja, um dia folha. Um dia nenhum dos dois, só o relógio trabalhando. Uma engrenagem. 

Mais alguns anos.