Enfeitar o mundo?


Dia Internacional da Mulher, redes sociais repletas de homenagens. Homens postando parabéns, mulheres festejando. Temos o que festejar? 
"Ah, claro que temos! Somos as mais isso, as mais aquilo". Espera aí, não é exatamente essa a intenção de se fazer um dia internacional, não é?!
Apesar das celebrações, mulheres e mais mulheres continuam morrendo todos os dias em uma sociedade machista. A Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR), através do disque-denúncia 180, registrou em 2016, apenas nos dez primeiros meses do ano, 63.090 ocorrências de violência contra a mulher, ou seja, 1 a cada 7 minutos. 
É, é isso mesmo. Não temos muito o que festejar. Não estamos aqui para discutir quem é que manda, homens ou mulheres, mas sim para lutar pela igualdade de condições de trabalho, estudo, salário, opção, liberdade. Estamos aqui para falar sobre a ditadura do corpo, do molde, que faz com que meninas cresçam limitadas em um país que ainda vive uma cultura arcaica e injusta. 
"Não temos mais machismo", sério que tem gente que acha isso? 
Se a mulher usa roupa curta, "tá querendo". Se não casa e/ou não tem filho, é "solteirona" ou "incompleta". Se engorda, "relaxou". Se é livre sexualmente, "não é pra casar". Apesar de toda mudança que sim, o mundo teve nos últimos anos, a gente ainda precisa ser bonita, constituir família, saber cozinhar. Se assim não fosse, não seríamos obrigadas a ler "bela, recatada e do lar" nas páginas de revistas.  
E o feminismo, ah o feminismo. "Você não é feminista, você se maquia, usa salto, se depila, é casada e tem filho". Oi? Quem foi que disse que feminista não faz nada disso? Se lutamos pela liberdade, seremos nós quem iremos rotular? Extremismos.
E as hastags? #meumundoazul, #meumundocorderosa, #mãedemenino, #mãedemenina. Ahhh, pára, né?! A gente define desde bebê a cor do mundo das crianças, define o que gosta cada gênero, ressalta as diferenças, ao invés de pregar a igualdade, a liberdade, a escolha. Não sou mãe de menino, sou mãe. O mundo do meu filho não é azul, é da cor que ele quiser e gostar. É colorido, diversificado, como uma boa imaginação deve ser. 
Então, ao invés de dizer que a gente "enfeita" o mundo, por que não agirmos para que possamos MUDAR o mundo? Começando ali, pertinho, dentro da sua própria casa, no trato com as pessoas, na criação dos seus filhos, no pensamento consigo mesma. Não, a gente não enfeita o mundo, a gente FAZ o mundo. E como tudo que precisa ser feito requer trabalho, vamos arregaçar as mangas, repensar as atitudes, abrir nossas cabeças. Ainda falta muito...