Estrelas


Cada pedaço de seu corpo suspirava. Tecia imaginariamente sonhos de te-lo real. 
Conseguia por instantes inteiros sentir o roçar dos pelos de seus braços nos seus, ouvir a respiração, olhar os olhos profundos que a levavam para longe. O peso do emaranhar, a boca que, ininterruptamente, dava-se ao calor úmido de seus lábios, sempre tão macios, e a coluna contorcia-se ao arrepiar dos poros. Descia, espinha abaixo, o ardor que só a saudade era capaz de trazer. 
Sugando-lhe num beijo era como se estivesse lhe sugando também a alma, tão verdadeiramente apaixonada que mal percebera o passar das horas. 
Era tarde. Sabia se-lo. E, ter-se horas os amantes? Se breve cada minuto ao seu lado tornava-o eterno em suas lembranças. 
Nada tinha por esperar da vida além de outro dia daqueles, em que andou pelas ruas sem sentir o chão, contemplando as estrelas que nasciam no luar enamorada pelas outras que cresciam dentro de si.