Herança


Arrastando as malas pelo aeroporto, ainda me questionava sobre aquela tia avó que nunca ouvi falar. Estava indo pra um país gelado, no meio do nada, atrás de sei lá o que que herdei de nem sei quem. 
Bom, melhor tirar a prova. 
Duas conexões e dezesseis horas depois, cheguei. Era mais frio do que imaginava. 
Olhei a casa. Toda feita em pedra, do tempo em que no inverno escondiam animais no porão por falta de aquecedor. 
Entrei pela porta e tudo cheirava mofo. Na parede um quadro que parecia foto de filme de terror. Reconheci meus olhos. Por mais estranho que parecesse, ela lembrava alguém, a mim. 
Não demorou muito e o advogado apareceu. Trouxe consigo uma caixa com o que ela deixara. Dentro, uma pedra. 
Nunca fui apreciadora de joias ou pedras preciosas, mas aquela, ainda que rústica, me pareceu familiar. Uma aventurina verde, daquelas que colecionava quando criança. 
Foi quando ele me disse que a herança mesmo era outra, colocando na minha mão um pequeno, mas tão pequeno, filhote de porco espinho. 
Não entendi nada.
- Então eu recebo cartas e telefonemas porque ganhei uma herança e você me entrega uma pedra e um porco espinho? 
- Sua tia disse que a pedra lhe pareceria familiar. 
- Sim, gostava delas quando criança. Como ela soube? 
- E o animal, não sei, mas só mandou entregar. 
- Um porco espinho? 
- Disse só que você estava acostumada a lidar. 
- Nunca tive um desses! Ela era louca! 
Peguei o filhote e sai daquela casa antes que enlouquecesse também. Nada fazia sentido. 
Olhei pra ele. Tão pequeno, tão cheio de defesas e tão sem saber como usá-las. 
Para ensiná-lo teria que aprender a lidar com as minhas. Acho que a tia sabia bem o que eu estava precisando.