Estávamos há mais de duas horas em pé, sem água, tremendo de frio e de medo.
À minha frente e em minhas costas, outras mulheres e crianças igualmente assustadas. Umas choravam, outras rezavam, outras ainda, assim como eu, não conseguiam demonstrar qualquer tipo de reação.
A neve caía sobre nossos corpos magros e sujos, envoltos em pedaços de tecidos que de longe pareciam roupas. Tínhamos comido apenas um minúsculo pedaço de pão pela manhã.
Dormir só era possível quando não aguentávamos o peso de nossos próprios olhos. Amontoadas em beliches de madeira em quartos coletivos tão úmidos quanto nossos pulmões, o que ouvíamos era sempre o som das máquinas empilhando os cadáveres mortos durante o dia.
E agora, naquela fila, o que esperávamos era que à noite o mesmo triste desfecho aconteceria conosco.
Aproximei-me da porta de entrada. A mulher à minha frente, desesperada, foi empurrada pelo guarda para que entrasse. Caiu e foi chutada.
Entrei sem relutância. Que meu destino fosse cumprido, nada podia fazer.
Dentro do salão, tentávamos nos proteger, certamente em vão, do gás que cairia em breve sobre nossas cabeças raspadas.
O barulho das torneiras, os gritos.
Ao invés de gás, água.
Por ora, banho. Amanhã é um infinito não se sabe.