Aos cinco anos, fui matriculada no ballet. Minha mãe dizia que eu seria a menina mais delicada e bonita do mundo.
Meu pai discordava. Me explicava futebol e queria que eu crescesse inteligente e forte.
Ambos buscavam realizar seus sonhos. A bailarina suave que deslizava na ponta dos pés e a jornalista esperta que analisa e argumenta sem chorar por ninguém além de si mesma.
Assim, me tornei mulher. Cambaleando entre os dois lados da moeda, fui o que queriam que eu fosse. Cada qual a seu tempo, claro. Fui a cor de rosa dos planos de minha mãe e o azul da utopia do meu pai. Fui os dois, sem ser nenhum por inteiro, por que sim, como não sabia a quem deveria agradar, fui ambos pela metade.
Não me arrependo.
Aprendi a ter ternura. Aprendi a andar ereta, passos firmes, cabeça erguida. Aprendi a esticar as pernas, a olhar nos olhos, a ouvir o que a música tem a me contar em cada apertar de teclas do piano. Aprendi a acariciar o cabelo de quem amo e me sentir leve e flutuante. Danço comigo mesma quando me encanto.
Por outro lado, ambígua como qualquer pessoa criada de forma dupla pode ser, aprendi a ter firmeza. A não abaixar a guarda, a defender meu patrimônio, minhas verdades, a rosnar e mostrar os dentes pra me defender. Aprendi a voz educada, mas severa, a não mudar de ideia sem ser convencida, a duvidar. E aprendi que doação demais me deixa fraca.
Tropeço em mim mesma quando me desencanto.
Com tantas lições, oscilações, desculpas e perdões, sobrevivi mais do que vivi. Busquei, busquei, busquei. Estava tão ocupada buscando que não percebi quando encontrei. Desperdicei.
Peguei atalhos, refiz caminhos, e em outras tantas fui pelo lado oposto. Voltei, mas quando a gente volta, não volta mais o mesmo.
Não é o destino que te dá as respostas, é o caminho que te traz as perguntas.
Não é o destino que te dá as respostas, é o caminho que te traz as perguntas.