Sobre orquídeas




Então eu me via assim, calada e inerte ao que me acontecia. 
Não sei como ou quando se deu, mas há tempos havia me perdido. 
Ia no rolo dos dias, sempre tão ocupada pra mim mesma, que já não sabia se estava escolhendo ou sendo escolhida. 
Já não importava se era verão ou inverno, dia ou noite. Não sabia distinguir o que passou e o que ainda estava por vir. Tanto fazia. 
A vida era como o transcorrer de uma sentença. O que tinha a fazer era esperar, esperar, e só.
Pelo que? Pelo que se há de esperar, a morte. Não é ela a quem esperamos desde que nascemos?
Seguia, portanto, essa espécie de procissão onde já se sabe o final quando em um dia como outro qualquer, a cor foi devolvida aos meus olhos. 
Não soube precisar quantos segundos, minutos, horas ou dias foram precisos, mas eu estava ali, de novo, frente a frente com aquilo que jurei nunca mais estar. Sem chance de escolha. Sem recuo. 
Sem também que pudesse evitar, transportei meus punhados de areia, aqueles que guardei por tanto tempo na espera de construir o meu castelo, para outro terreno. Este, até então, tão desconhecido. (Embora hoje saiba que todo e qualquer terreno assim o seja. Nunca se sabe o que, de fato, há embaixo da terra que adubamos.)
E os montes não foram o bastante. Com as mãos ainda sujas, tratei de plantar semente por semente. Gotas de água da chuva, sereno da noite, céu estrelado, e tudo que poderia oferecer. Nada. 
Nada germinou ou floresceu, senão em mim. E enquanto isso, minhas pequenas orquídeas mal cabiam em meu peito. 
Hora de sufocá-las, pensei. Plástico e pá nas mãos, lá fui, determinada. 
Ao passo que minha respiração ofegou, não consegui. Tarde para recolher. 
De flor passara-se há tempos. Amor.