Você acorda, lava o rosto, escova os dentes, toma café, arruma a cama, dá ração pro cachorro. Você se alonga, medita, come uma fruta e sai.
Cumprimenta os vizinhos, leva o lixo, pergunta se o filho do porteiro melhorou, pega a correspondência e anda pela rua.
Olha tantas pessoas estranhas e tenta achar alguma coisa parecida.
Você quer, desesperadamente, se encontrar.
Se encontrar nas roupas, no modo de falar, no jeito de sorrir, de olhar.
Mas não, ninguém é igual.
Você pensa. Enquanto pensa, anda, sonha.
Seus sonhos tem trilha sonora.
Você vive em um mundo paralelo. Explica, mas não conclui. Acha que é desnecessário detalhar o que é tão fácil de entender e não percebe que fácil só é pra você.
No entanto, você também não entende. Tenta, mas não compreende o diferente.
Você acusa, defende e julga, tudo ao mesmo tempo. Bate o martelo, fica brava.
Meia hora depois, esquece. Tudo de novo.
Você, então, sorri. Tenta colorir um desenho já desbotado.
Tem esperança - essa sempre tão insistente.
Você é você. Assim. Até o fim.