Quando é dia


A gente não inventa história, só conta.
Não, não conta, faz mais, cria.
Cria baseado em fatos reais, mas manipula.
Manipulamos a nós mesmos. Invertemos as ordens, dividimos os excessos, suprimos as faltas. Argumentamos, negociamos e, claro, poetizamos.
Jornalista vê flor onde só tem cimento.
Somos, portanto, inventores mesmo. Inventores de frases, colecionadores de palavras.
Palavras cheias.
As vazias a gente esquece.
Esquece?
Não, a gente nunca esquece.
Jornalista que é jornalista guarda tudo quanto é palavra. Estoque de sopa de letrinhas que trazemos dentro do peito.
Na cabeça só sonho. No copo, só fuga. Nas linhas, só coração.
Interrogação. 
(...)