Para curar a dor


A terra ainda estava molhada pela chuva do dia anterior. Pequenas gotas enfeitavam os pés de espinho que atrapalhavam o caminho. 
Barulho de folhas secas e aquele cheiro de eucalipto que tanto gostava. 
Corria o mais rápido que podia. O destino era a mata, pequena mata, do fim do sítio. Ali estaria segura. 
Segura dos touros que estavam soltos aquele dia. Segura da fúria da avó que ameaçava com o reio na mão. 
Enquanto corria ouvia o riso dos primos, que também fugiam, se espalhando pelo terreno. 
Sabiam que teriam que voltar. Mais tarde era hora de moer e ajudar a fazer o café. 
Por ora, melhor não enfrentar. A pequena não era de brincadeira. 
E foi correndo que parou na represa. Viu o cachorro tomando banho e não pôde deixar de olhar. Sem esperar, picada de abelha atrás da orelha. 
Fim da fuga. 
Aos prantos, olhos claros e encharcados. No lugar do reio, o álcool. 
Ah, vó, braveza que dava lugar pro amor. Como queria agora um álcool para curar a dor.