Era dia


Da tranquilidade restava só a lembrança. Da certeza, saudade. 
Agora do acordar ao deitar era um pulo. Um pulo no escuro. 
Mantinha a cabeça ereta, o corpo esguio, a mente tão cheia quanto o copo. Copo de água. 
E não usava mais aquelas pílulas que lhe aquietavam o coração. 
Um tanto espremida na parede, um tanto machucada, um tanto ofegante pela vida que arrastava. Ainda assim, de tanto em tanto, de pé. Tinha mania de ver o sol. 
Recolhia-se na chuva, no frio, no vazio. Enchia-se de palavras, poucas palavras, que sempre lhe pertenciam. Era dia. 
Sim, apesar da cortina escura que pouco lhe deixava enxergar, lá fora ainda era dia.