Ser, ainda que breve


Uma gota. Uma gota caindo da torneira no escuro da noite. 
Barulho que entorpece o ouvido, quase se faz música. 
Ao dia, só gota. 
Mas ela cai sistematicamente, não adianta fechar a torneira. Cai porque tem que cair. 
Podia ter seguido o fluxo. Se misturado à água corrente, sempre tão mais forte. 
Mas não. Guardou-se para ser usada, inundada. 
Tornou-se corajosa e desceu pelo cano levando o melhor de si. 
O fim? Desfez-se no encanamento sujo. 
Mas foi, como queria, por uma noite que seja, a mais bonita e suave gota.