Pise na grama


Não pise na grama, isso o que diz a placa.
Não fume, não estacione, não ultrapasse, não entre, não faça barulho. 
Não, não, não.
A primeira palavra que uma criança aprende o significado. A primeira que a desafia.
Não enfie o dedo na tomada, filho, dá choque. E você enfia, vai fundo, até provar que "não é que dá choque mesmo?"
A grama morre. Não foi você quem pisou.
O carro é guinchado, multado, você é expulso, notificado. Se tivesse lido a placa...
É, mas não leu. 
E olha que ela sempre esteve ali, escrita em letras garrafais, bem à sua frente. 
Para servir de consolo, analisa o aviso. Por que não posso?
A grama morre ou renasce? Deixa eu testar. Vai, pisa de novo. 
Vai pisando enquanto ninguém vê, e o pior: gostando. Sente as folhinhas refrescantes no meio dos dedos quentes, a energia do solo, o vibrar das crianças correndo, o nascer de pequenas flores. O aviso passa a não ter lá muito sentido e a tese do "é proibido proibir" rege dias e pensamentos. 
Até que, de uma hora para outra, cercam a grama. Não se pode mais pisar e ponto.
O que você faz? Chora. 
Mas, você não sabia que era proibido?
Não, você não sabia. Na verdade, nunca soube. 
Não soube porque nunca entendeu. Nunca explicaram os motivos, nunca te convenceram. Você só quer fazer o que gosta, o que dá prazer e, convenhamos, a grama adora a visita dos seus pés. Carinho imoral.
Nada de folhinhas, solo, vibrar, nascer. 
E a grama, que era para estar mais verde, vai amarelando, amarelando... até morrer.
Ué, mas ela não morria se pisasse?
O que a gente não entende é que nem toda regra nos faz felizes. Nem todo errado nos faz mal. 
Fale alto. Se não puder estacionar, sente na calçada. 
Só nunca, em momento algum, deixe de se permitir.
Pise na grama. Ela gosta, não gosta?