No retrovisor


Amareladas. É, as páginas estavam amareladas. Mas, quem se importa?
Peguei o livro, um achado, e sai do Sebo como quem sai do garimpo. 
Atravessei as ruas sozinha, embora ainda sentisse minhas mãos quentes como se alguém as segurasse.
Antes de folhear meu raro Neruda, observei as nuvens. 
Pensava nele. Nos últimos dias não fazia outra coisa.
Cada poste que passava à minha frente, cada esquina que deixava para trás, era um pouco dele que o tempo desbotava. Aos poucos, transformava-se em fotografia estampada no retrovisor.