Aisha tinha cinco anos quando aprendeu a não esperar demais.
Queria uma sapatilha nova, mas ganhou uma boneca no Natal.
Ninguém entendia sua preferência por dançar a brincar, então, sempre davam-lhe bonecas.
Ela gostava, claro, mas queria mesmo sapatilhas.
Todos os anos abria com displicência seus embrulhos.
_Não vai agradecer? – perguntava a mãe.
_Obrigada! – respondia a menina, com ligeiro sorriso no rosto. Aprendera a ser grata pelo que viesse, embora não conseguisse disfarçar a frustração.
Pegava a boneca, ia pro quarto, a colocava na cama, e calçava as velhas sapatilhas.
Havia visto uma com a fita mais grossa, de ponta, linda! Quem sabe o ano que vem...
De presente em presente descobriu cedo que nem sempre o pacote contém o que deseja.
Às vezes é isso, uma boneca bonita. Não exatamente aquilo que pediu, mas aquilo que lhe coube no momento.
No entanto, por mais que Aisha soubesse disso, trazia dentro de si um pouco de esperança toda vez que abria uma caixa - e isso se seguiu por anos, até ficar adulta.
Óbvio que não esperava mais o sapato nem a boneca. Mas esperava - como esperava - sempre alguma coisa.
Enquanto devaneava com o sonhado presente da vez, sentava quieta à beira da árvore de Natal e contemplava, horas a fio, as luzes coloridas.