Esmalte descascado, corpo nu, luz que entra sorrateira pela fresta entreaberta.
Pernas que deslizam pelo lençol, cabelo que se emaranha no travesseiro com fronha de algodão.
Sem maquiagem, está pura. Pura em si.
Ouve cinqüenta vezes a mesma música, mexe com elegância os pés.
Na costela descoberta a tatuagem recém conquistada.
Dói, mas logo passa.
Tatuagem é feito caderno. Caderno cheio de manuscrito.
Nele se escreve o que faz sentido.
Mas, ela não era de fazer muito sentido. Só sentia, ah, como sentia.
Envolvida em si mesma ali, naquela mesma cama, via pela janela a vida passar ligeira.