Passos no escuro


É noite. Todos os sons se aquietam e só a coruja emite seu piado.
Paredes de madeira descascada, piso de cera vermelha, telhas de barro.
Janelas fechadas e cortina iluminada pela fraca luz do abajur.
Dentro de um dos tantos quartos, móveis velhos e conservados.
No quintal, terra vermelha e escuridão. Cheiro de eucalipto.
Todos os animais dormem.
Passos rompem a calmaria. Um a um, conduzem à palpitação.
No silêncio, só ouço meu coração.
Não sei como alguém poderia ter descoberto meu refúgio. Ele fica longe, distante de qualquer evidência que minha personalidade pode dar.
Talvez nem combine muito comigo, sempre tão agitada. Mas é aqui, em meio a lenhas empilhadas, que faço casa com minha solidão.
E mesmo assim, com tantos contrastes, ouço passos.
Não sei de quem, mas sei que minha imaginação não os teceria em vão. Presto atenção.
Eles vêm em minha direção. Consigo sentir até a respiração.
Vão chegando, chegando.
A maçaneta se meche, minhas pernas amolecem.
Medo e excitação.
Pequeno feixe de luz entra no quarto.
Entreaberta, a porta não mostra nada.
Tento espiar, mas meus olhos desviam. Ansiedade.
_Quem está aí?
Ninguém responde.
Certa de que nada de bom estaria assim, tão quieto, imagino mil cenas de assassinato com crueldade em uma casa de campo afastada da cidade.
Já conformada, dou as costas para a porta.
Sinto, de repente, um toque em meu ombro.
(...)