Ele acordou com o relógio gritando. Todo dia a mesma coisa.
Banheiro, escova de dentes, café preto, carro, trânsito, bom dia, computador.
Computador, almoço. Almoço, computador.
Seis da tarde. Fecha o notebook, pega a mochila, tchau, até amanhã.
Janeiro a janeiro, ano a ano.
Rugas novas no espelho, barriga crescendo, entrada maior no cabelo.
Às vezes sente, às vezes pensa nela. E às vezes, bem às vezes, também lembra dele mesmo.
Nessas horas, quase liga, quase escreve. Quase.
Mas a vida não é ruim, não. Vive cheio de amigos.
Fim de semana é hora de se divertir.
Hora, hora. Ela não gosta de relógios.
Por causa disso, pegou a valise e sumiu.
Dizem que a viram meses atrás em São Thomé olhando o pôr do sol. Depois, nunca mais.
Ele continua olhando as horas. Para tanto, comprou relógio novo - marca gringa.