O lado sombrio do sol


Pela fresta da porta, um pequeno feixe de luz ilumina a sala escura.
No silêncio, o ruído da madeira é quase uma oração.
Ela ardia por dentro. Não ardor assim, feito fogo. 
Lá fora, folhas secas caídas sob a grama verde. Fim de inverno.
Lábios ressecados pela brisa da manhã.
Sol que nasce insistentemente todos os dias na mesma hora - nada altera o percurso moldado.
Paredes descascadas e cheiro de café. 
No meio da imensidão até onde a vista alcança, chão. 
Chão que se pisa pela primeira vez; chão que nos guardará. 
Pequenos e cansados pés voltam para casa, e a volta é sempre difícil.
"Teus ombros suportam o mundo, e ele não pesa mais que a mão de uma criança."
Mãos suaves, mas fortes. Do campo, cheias de marcas. 
Paixão que foge, esgota até não respirar mais. Que se cala nas palavras de um texto sem nome.
Nome - substantivo, pronome.
Sujeito oculto que não importa - nunca somos um só.
No quarto de uma casa de campo qualquer, andando de um lado para outro, ela, no meio do mato, meio de seus inúmeros pensamentos, mal consegue se manter de pé. 
Vertigem.
É o preço que se paga - linhas mal escritas.
No calor, descobria-se o frio.

O lado sombrio do sol.