Manuscrito


02 de dezembro de 2007

Antônio,

Já não sei mais se as palavras que escrevo serão suficientes, mas escrevo.
Não sei se fará com elas o que espero que faça, ainda assim envio.
Talvez se espalhem pelo chão que um dia pisamos juntos, mas, tanto faz. Cuido delas até saírem de mim, depois são suas.
As malas estão prontas, o carro ligado e todas as contas pagas. Não levo nada além do que parece meu - mudas de roupas, livros amarelados e cds daquela coletânea antiga que demorei tanto para encontrar. 
Levo a alegria desses anos todos e um pouco da tristeza do adeus - muito embora leve mesmo a certeza de não querer mais certezas. Para tanto, carrego minhas tão conhecidas dúvidas.
Segurança não garante eternidade, não garante confiança. E foi aí, nesse terreno baldio e estranho, que começamos a nos perder.
Esquecemos nossos detalhes, contaminando o que era riso com ordens de uma hierarquia que nunca deveria ter existido.
Hoje nada faz sentido. 
O rádio toca sempre a mesma música - e ela não conduz mais meus passos. Agora danço sozinha e guio meu próprio ritmo.
Obrigada pelos dias - nossos dias. Espero que os seus adiante sejam iluminados.
Fique em paz.


Luísa.