Manhã


E, finalmente, ela havia acordado.
Após meses dormindo um sono quase entorpecente, despertou.
Como quem se afoga no sonho, era como se tivesse vivido, tocado,  mas no fundo sabia que tudo limitava-se em sua farta imaginação.
Alongou os braços, pôs-se a esquecer os detalhes. 
Dobrou o edredom e guardou os travesseiros. Sentia-se disposta como há tempos não se sentia.
Estava decidida a recapitular sua ordem. Enumerou seus capítulos sem excluir nenhum.
Guardou este duvidoso para o meio - quando sempre se pergunta se o fim é mesmo aquele que imaginamos.
Quem nunca se questionou, nunca teve certeza.
No meio a gente sempre pode envergar - o importante, sabia a menina - era permitir se perder desde que fosse para se encontrar.


"Todas as manhãs ela deixa os sonhos na cama, acorda e põe sua roupa de viver."