Perceber o imperceptível.
Sentir o insensível.
Procurar o que nunca se perdeu.
Com o livro debaixo do braço, recusava-se à modernidade. Preferia jornal impresso que tablet, martelo de carne a máquina de açougue, disco de vinil a mp3.
Tudo se renovava, menos sua utopia de gente pequena. Porque grande, grande mesmo, só pensa em ganhar dinheiro.
E ela, então, saía em busca da tal simplicidade.
Passando pela vila rural, colocou-se a chorar na beira da estrada.
_Tá se sentindo mal, filha?
_Não, estou feliz.
_Então por que está chorando?
_Porque preciso aliviar meu rosto para que ele volte a sorrir.
E assim, pés descalços na terra avermelhada, pôs-se a caminhar debaixo do sol quente.
Passou pela figueira mal assombrada, pela escola desativada, pelo sítio mal cuidado, pelo pé de jabuticaba. Como na infância, estendeu a camiseta e apanhou algumas para levar pra casa.
Respirava de peito aberto, como quem traz o ar puro consigo. Queria abrir os pulmões à nova vida, como espécie de asilo depois de tanto fogo cruzado.
Chegando à última estrada de chão, no lugar mais distante que seus pensamentos, sentou na grama verde e desejou contemplar as flores. Dos espinhos não queria mais notícias.