Lençóis desarrumados


O sol da manhã entrava pela janela e iluminava sua pele nua. Deitada na cama, diferentes tons de dourado a mantinham aquecida.
Ela dormia. Ele a olhava.
Enquanto zelava seu sono não havia pregado os olhos. 
Quando estava pronto para não querer estar ali, ela acordou.
_Bom dia! - disse preguiçosamente, enquanto esticava os braços.
_Bom dia!
_Dormiu bem?
_Sim! - respondeu ele, mentindo.
Nada conseguia ser maior do que a doçura do sorriso dela e queria vê-la feliz.
_Está estranho. Vem aqui!
Envolvendo-o em seus braços, fez-se casa tudo que havia de ruim. Fez-se paz o conflito, suave o imoral. Sentindo-se engajado em uma ternura infindável, Basílio nela se encontrava, ou se perdia.
Qualquer arrependimento se esgotava por entre beijos macios e toques cheios de desejo. 

(...)

Ela levantou devagar, sem fazer ruído. Sistematicamente, vestiu-se e ficou alguns minutos o observando. Sabia que ele não havia dormido e não queria acordá-lo. 
Tudo parecia mais colorido naquela manhã e dilatava dentro dela a magia suspirante de um carinho sem igual. De frente ao espelho, seu corpo parecia ter mais forma.
Voltando-se ao céu azul cheio de nuvens que costumava enxergar desenhos, percebeu que estava diante de um presente, não uma escolha.
Presentes não se negam - disse baixinho, enquanto penteava o cabelo.
Lençóis desarrumados. 
Sobre a mesa, deixou uma flor e um bilhete.
"Obrigada por fazer valer a pena. Até amanhã! Com carinho, Luíza."
Ela já havia ido embora quando ele acordou. Como lembrança, só o perfume doce espalhado pelo quarto.
_Até amanhã! - respondeu para si mesmo. Seus olhos brilhavam.