De branco, em branco


_Você está linda!
Os olhos da mãe brilhavam quando ela terminou de colocar o vestido. Era a última filha que se casava.
Toda de branco em frente ao espelho, mal conseguia se mexer.
_O que foi? Está gostando?
_Sim.
_Por que está tão quieta?
_Estou pensando.
_Ah, toda noiva é assim!
E ela continuava ali, em silêncio, embora seus pensamentos gritassem.
Apesar de ter lido todos os contos de fadas existentes em sua infância, nunca pensou que essa hora chegaria. E aquele antigo plano de viver sozinha em Paris ia escorrendo por água abaixo.
Casa, quarto colorido, viagens de férias, churrascos de domingo, um futuro bebê. Sempre os mesmos sonhos.
Um misto de sentimentos brigava por espaço. Como de costume respirava, fechava os olhos e pulava.
_Pula, menina, pula - repetia baixinho, quando um aperto a fez voltar a si.
_Ai! Precisa apertar tanto?
_Quem quer ficar bonita tem que...
_Sofrer!
Mãe e filha riram juntas. Essa era a frase que ouvia quando criança.
Lembrou da mãe fazendo o rabo de cabelo e as puxadas que deixavam os olhos esticados, dos pés machucados por causa do ballet, da tendinite após textos imensos.
_É mãe, toda paixão traz consigo um pouco de sofrimento.
_Vai valer a pena. Sempre vale!

Talvez seja por isso que as mães existem.
(...)