Gotas de chuva caíam sobre sua pele. Cada uma delas doía como agulha na carne.
Sentia os pés leves, quase dormentes, enquanto caminhava sem direção.
Observou as luzes. Eram tantas.
Passando em cima do viaduto, incrivelmente tudo lhe parecia pequeno.
Trânsito parado, pessoas voltando pra casa.
Cruzou os braços e fechou o casaco. Era a terceira vez que tinha febre naquela semana.
Dentro do previsível, sabia que seria assim.
Ao sinal de tristeza, aumentou o volume da música - não tinha tempo pra isso.
Tentou não pensar. É, estava tentando.
E de tentativa em tentativa, os dias passariam depressa.
Mais depressa do que ela imaginava, mas, essa não era escolha sua.
Não sabia se cabia em sua realidade os sonhos que tecia em sua imaginação. No fundo, imaginava para que o sabor dos poucos dias que sobravam na folhinha tivessem a mesma paixão dos filmes que gostava de assistir - maneira sutil de esconder o que trazia consigo.
Como um pequeno pardal, pousava na janela esperando o mal tempo passar.
Por fora flores. Por dentro, tempestades.