Sobre a volta e o primeiro encontro


Quando a gente se encontrar, como vai ser?
Vou te apertar, te abraçar, sorrir.
Vou te dizer oi, entregar minhas malas, meus segredos.
E se você voltar, devo te abrir a casa? As janelas, as cortinas.
Devo dizer que senti sua falta. Que a vida me fez ver, me fez ser.
Devo dizer que sabia que você viria - porque no fundo, sempre esteve aqui.

E se você aparecer de repente, revirar a minha vida, me entorpecer com suas frases feitas, seus gestos simples e seus olhares indiscretos, devo temer? De medo não levei lembranças, mas de coragem fiz minha memória.
Levarei vinho, flores, música. Levarei minhas cicatrizes, minha alegria sutil, minha dança moderna.
Ganharei a respiração apressada, a timidez da sua gratidão, o calor das suas mãos.

E quando eu for embora, o que dirá?
Se o que temos é uma passagem com data prevista de retorno, um diário bem escrito, com letras minúsculas e citações fortes.
Dirá que sentirá saudade, que se arrependeu de não ter me beijado mais.
E eu, o que levarei de você senão suas palavras?

Somos contadores de histórias. Para tê-las é preciso enfrentar os medos e deixar se perder. 
Nos encontraremos ali, mais à frente, nos capítulos que ainda não terminamos de escrever.