21 de agosto de 1999.
Uma semana depois de cair na apresentação de ballet, quando sua perna não a obedecera.
Uma semana após saber que também elas, as bailarinas, que sempre julgou perfeitas, também perdem o controle.
Tantos planos pra esse aniversário e seus quinze anos já não pareciam interessante. Acordou atrasada para ir à escola, não escolheu os brincos, como de costume desde criança. Não quis carona, gostava de andar para pensar.
Nem as amigas, nem o menino que gostava, nem as flores que ganhara foram suficientes. Voltou pra casa chorando por dentro por não poder mais dançar.
Deixou a mochila na cama e viu a caixa. Grande, pesada, embrulhada em papel bordô. Abriu desconfiada, desenrolando a fita de cetim.
Uma máquina de escrever.
Não era um computador, um caderno, uma caneta.
Suspirou.
Lembrou da mãe a consolando no dia do ballet.
_Queria ser bailarina!
_Você pode ser o que quiser.
_Não posso mais.
_O que você mais faz quando está sozinha? Dança?
_Não, escrevo.
Em cima da cama não tinha um presente. Tinha um recomeço.
Era a vida, em forma de mãe, a apresentando uma nova chance. Porque a gente sempre tem um outro dia.