Sobre um elogio


Na fila do banco, no amassado do ônibus, na informação de onde fica - todo lugar, toda hora ela fazia amizade. Dia desses foi fazer prova. Perdeu a hora, a prova, e ganhou companhia pra cerveja. Ela era assim, só conversa. 
E de conversa em conversa, olho no olho, aprendia, crescia. 
Foi pra casa sem vontade de ir. Não era tristeza, estava assim, sei lá. Analisava seus sentimentos como fazia análise sintática. Verbos eram sempre os mais difíceis.
Decidiu, então, parar um pouco na praça do caminho.
Sentou próximo aos bancos da terceira idade, ligou a música, colocou o fone. Um senhor a cutuca.
- Está ocupada? 
- Não. 
- Podemos conversar? 
- Sim! 
- Queria uma opinião. Vou para frente e capturo a Dama ou para o lado e capturo o Cavalo?
- Hum... o Cavalo!
- Obrigado! 
- E ah! Você é uma moça muito especial!, elogiou o senhor antes de voltar-se ao jogo. 
É, especial era o elogio ideal para aquele dia. 
Levantou e chegou em casa cantando sua música preferida, enquanto olhava no espelho se sentindo, de fato, especial. Porque sentir supera qualquer outro verbo.