Pela retina


Mais uma tarde de verão e a tempestade se aproximava.
Sentada na mesa do bar, sentia o vento tocar meu cabelo lentamente.
De perto, a imagem embaralhava. Pálpebras abertas e cílios atentos abriam e fechavam automaticamente.
Profundos, negros como tudo que é forte. Intensos, apesar de leves.
Pupilas pequenas, quase invisíveis na confusão de uma mesma cor.
Dois tons misturados, discretos e opostos, percorriam juntos ruas imaginárias à procura de resposta - entrega delirante do sentir.
De negros à castanhos, modificados pela luz. 
O mistério que fascina traz consigo olhos escuros de uma alma transparente. Metade menino, metade homem feito.
Ambíguo em poucas palavras, sagaz em movimentos sistemáticos. Mãos ansiosas. 
Pela retina, toca sem encostar, marca sem agredir.
Inspiração que afugenta o sono, olhos que sussurram calados no silêncio de uma música - labirinto por onde escapo.
(...)