Encantar


Saiu pela chuva. Enquanto caminhava sem pressa por entre ruas desertas, gotas geladas refrescavam sua pele.
O vestido colava em seu corpo, suas pernas umedeciam e a trança do cabelo pouco a pouco se desfazia.
Não quis abrir o guarda-chuva, não correu. Permaneceu anestesiada em seu devaneio sem destino.
Nos lábios, o sal -  e a chuva caindo mansa como um gato que calcula seus passos. 
No peito, suspiro ansioso de uma palpitação quase sem controle. 
Entorpecente e atônita, observou a inércia de suas ações, tão oposta aos pensamentos borbulhantes.
Carros passavam, luzes se acendiam, pessoas andavam ao seu lado sem a enxergar.
Desprendendo-se dos dias, executava cinco sentidos na ânsia de despertar, ou encantar.