Adormecer


Febril, seu corpo parecia não lhe obedecer.
Mais um dia com os pés cansados, cabeça latejando, voz fanha.
O sol batia na sala, enquanto a gata dormia deitada no tapete.
Deixou a bolsa e entrou no chuveiro como quem alcança a redenção.
Se secou, vestiu a calça de moletom, pegou o livro.
Deitou no sofá na esperança de terminar o capítulo, mas adormeceu.
A gata levantou, espreguiçou, mediu a altura, pulou em cima dela e pôs-se a roncar.
Não passara muito, ele chegou. Viu a cena e não quis alterações.
No pequeno pedaço que restava do sofá, fechou os olhos.
Não se sabe por quanto tempo ficaram ali, imóveis.
Pensamentos vazios, silêncio. Três. Nenhum.
No cansaço do dia a dia é que se encontra o descanso. No descanso, a paz.
Na paz, o sossego. Na paixão, a ansiedade.
Adormecer já não tinha mais o mesmo significado.