A menina e o vulcão


Todos os dias ela caminhava descalça por entre as pedras. Tanto, que seus frágeis pés transformaram-se em um par de pequenas rochas inquebráveis.
Andava com jeito majestoso, como quem dança consigo mesma, tinha o rosto suave - feito de porcelana - lindos olhos pintados à mão e a pele mais branca de todo planeta. 
Mas, qual era mesmo o planeta?
Nem a menina sabia onde estava - só sabia que era longe, bem longe.
Mais longe do que tudo que podia enxergar de dentro daquela caixinha de vidro em que vivia.
Espinhos perigosos ocupavam toda terra, mas ela nem os sentia. Os pisava e continuava ali, de pé, faceira.
Nos últimos tempos, porém, alguma coisa acontecia-lhe por dentro. Estava estranha, enjoada, sonolenta. 
Pensou ser o calor do vulcão, a falta das flores, o suor.
Pensou ser coisa do espírito. 
Pensou, pensou, e adormeceu quando o dia começava a raiar - era feita para as madrugadas.
Quando acordou, algo novo havia sido feito. Sentiu o peito se mexer. O que seria?
Olhou à sua volta ansiando que lhe pudessem explicar o que dentro dela acontecera.
Não ouviu nada, além do eco de sua própria voz. 
Com a ponta dos dedos, temorosa e aflita, acariciou a pele tentando encontrar uma resposta. 
Ah, pobre menina, mal sabia que dentro de si havia nascido um coração.