- Vamos jantar?
- Não, amor, obrigada. Estou meio enjoada hoje! - foi assim que recusei pratos deliciosos essa semana. Só de sentir o cheiro do lanche cheio de queijos e temperos, que antes eu amava, saia correndo em busca do vaso sanitário - uma cena não muito atraente para um casal recém-casado cheio de expectativas de etiqueta.
Mas, inevitavelmente, lá ia ele, atrás de mim, perguntando o que tinha comido no almoço para justificar cheio de razão, meu mal estar.
Dias depois, o mesmo sintoma e cheguei à conclusão: minha gastrite voltou. Reduzi molho de tomate, parei com os refrigerantes e cafés, comi de três em três horas em pequenas porções.
- Está melhor?
- Parece que sim.
E minha paz era interrompida pelo cheiro de comida fresca - desta vez, vindo do vizinho.
Não teve jeito. Mesmo com medo da endoscopia, marquei a consulta com o gastro.
- Minha gastrite deve ter voltado, doutor. Nada pára em meu estômago. Sinto enjoo só de pensar em comida.
- Mais algum outro sintoma?
- Fome, muita fome. E ah, sono também. À tarde tenho que me entupir de café para não dormir no trabalho. Ahhh, já sei, isso que atacou a gastrite!
- Pode ser. Vou te passar uns exames!
- Endoscopia?
- Não, sangue.
- Sangue? Nossa, que ótimo. Como é bom o avanço da medicina, odiava endoscopia. Tão mais fácil detectar gastrite colhendo sangue!
- Não é para detectar gastrite.
(Silêncio na sala.)
- Não?
- Não.
O médico me entrega o papel e eu leio: Beta HCG.
(Sinto meu sangue percorrer meu corpo, minha garganta fechar e minhas mãos suarem frias.)
- Será?
- Daqui três dias saberemos!
Saio da sala sem chão, sem direção, sem certeza de mais nada.
Ao passar pela porta de vidro do prédio me deparo com uma mulher e um bebê. Ao entrar no metrô, uma gestante ao meu lado. Ao chegar na porta do trabalho, uma criança sorri em minha direção.
- Deve ser gastrite! - penso, ainda trêmula.
Nunca um enjoo me causou tantos pensamentos.
Nunca esperei tanto por três dias.
(...)