Era o primeiro dia de inverno. É, deveria ser isso.
Frio, agasalhos. Todo mundo escondendo o que tem de mais bonito, todo mundo encolhido, tremendo de frio, de rancor.
O inverno há anos desnuda nossas folhas. Há anos marca o início de um novo tempo. E hoje, claro, não poderia ser diferente.
Eu tinha 19 anos, 20, talvez. Eu tinha a cabeça cheia de sonhos, o corpo cheio de quenturas, coração cheio de espaços.
Tinha meu conservadorismo, hoje tão pouco poupado. Tinha poucas cicatrizes.
Mas, não resmungo, não lato a cada barulho vindo do vizinho. Aprendi que minha casa pode permanecer de pé enquanto o mundo desaba. Às vezes, é preciso sair um pouco de si.
[Cantando parabéns enquanto remôo o tempo.]