Tinha seis anos, quase sete. Nascida em agosto, adiantara-se na série da escola e, com o incentivo natural das irmãs mais velhas, já sabia ler e escrever.
Passava pela sala quando viu na mesa, dando sopa, algumas folhas e uma caneta. Não pensou duas vezes.
Com as linhas a sua frente, tão puras, imaginou os desenhos que poderia formar, as cores, os detalhes. Quando foi aplicar o primeiro risco, opa, mudou de ideia. Com a inocência de menina, quis experimentar escrever o que lhe vinha à mente. Palavras, palavras. Algumas bonitas, outras que mal sabia o que significavam. Aos poucos, uma frase, duas, um texto.
Pronto, estava ali, toda desconexa e sem sentido, a melhor sensação de liberdade que poderia experimentar.
Desde então, caneta e papel, notebook e celular não a deixam dormir. Trazem, cada um com suas ferramentas, as mesmas linhas apaixonantes que imploram por exploração.
Mais uma noite em branco, mais linhas preenchidas.