Cotidiano imprevisível


A vida que seguia nem sempre era seguida por ela.
Caminhava devagar pela mesma calçada que deu seus primeiros passos, tão inseguros quanto os de agora. 
Tinha, pela primeira vez, talvez, a mais clara objetividade de quem sabe o que quer. E por isso ia, avante, frente ao seu destino.
Não soube precisar quando foi que o estalo se deu. Ou, tampouco, em que momento o start foi acionado. Mas, há coisas que não escrevemos nas linhas de nosso diário. Coisas que nos fogem ao cotidiano e quando percebemos, já aconteceram não se sabe como nem por quê.
Com a praticidade que só os anos concedem, confiou em habilidades ainda desconhecidas e em desejos com boa dose de vontade. Amanhã acordaria cedo, então, com o fone de ouvido tocando Pink Floyd, adormeceu.


"Ah, e dizer que isto vai acabar, que por si mesmo não pode durar. Não, ela não está se referindo ao fogo, refere-se ao que sente. O que sente nunca dura, o que sente sempre acaba, e pode nunca mais voltar. Encarniça-se então sobre o momento, come-lhe o fogo, e o fogo doce arde, arde, flameja. Então, ela que sabe que tudo vai acabar, pega a mão livre do homem, e ao prendê-la nas suas, ela doce arde, arde, flameja."