Na estrada


Estava chegando na parte do caminho que eu mais gostava.
Abri as janelas para deixar a luz entrar, aumentei o som e cantei.
No retrovisor, minhas lembranças ruins se tornaram pequenas diante do que tinha pela frente.
Há poucos minutos chegaria no sítio da minha infância. Na mala, os convites para a minha nova vida. No banco ao lado, todo meu amor dormia em paz.
Já com os pneus na terra seca, provavelmente sem chuva há semanas, reconheci a jabuticabeira que subia quando criança. A mesma que me segurava, a mesma que me fazia cair. 
Pude sentir o cheiro, pude tocar as folhas verdes. 
Não buzinei. 
Devagar, meus passos ficaram marcados no chão. Mesmo chão que meu avô plantou suas sementes.
Um leve sorriso se fez dentro de mim. Voltava para onde eu tinha a nítida impressão de nunca ter saído. 

[Porque eu posso ir embora dele, mas ele nunca foi embora de mim.]