Malas prontas



O dia estava nublado, como aqueles em que comia pizzas de chocolate com morango.
O branco do céu alinhava-se com o branco de seu coração, nesse momento tão esgotado de expectativas e com a única vontade de viver o que Deus houvesse de lhe proporcionar.
Não que não fizesse mais planos, pelo contrário, mas já tinha aprendido a aceitar o que não era pra ser e a agradecer de bom grado o que lhe vinha como oferta.
Enquanto ouvia música, arrumava as pilhas de roupas em cima da cama. Estava de mudança.
Mas, dessa vez, a mudança era grande, não só de casa, mas de tudo que estava acostumada.
Uma nova vida na mesma, como costumava dizer.
Começou a olhar as peças com certa melancolia. Cada uma delas tinha uma história, sendo todas, partes de sua trajetória.
Não eram apenas roupas, mas pedaços de uma personalidade, que claro, mudava de estilo de tempos em tempos.
_Essa aqui eu usava para ir à Augusta. Essa, no dia do meu TCC. Essa, no último dia de trabalho naquela empresa. Essa, quando o conheci.
E assim, seu pensamento ia longe.
O guarda-roupas que lhe esperava não era tão espaçoso, afinal, não seria somente dela.
Sendo assim, nessa nova fase, era cabível que escolhesse bem o que deveria a acompanhar e o que deveria deixar para trás.
Não que esquecesse, pois não era de esquecer. Mas, guardaria seus momentos em uma caixa valiosa dentro de si, livrando-se do peso de tantas recordações acumuladas.
Percebeu que depois da escolha detalhada, pouco lhe acompanharia na vida de casada. Pouco levaria para que muito fosse conquistado.
Peça por peça, momento por momento, conquistas e perdas eram relembradas, até que as malas se fecharam.