Fui esvaziando meus armários sem dizer uma só palavra. Cada cabide que ficava mais leve, era também a minha alma que se livrava de peso.
Não que eu não soubesse que isso aconteceria, só não estava pronta pra sentir, ou achava que não estava.
Pronta ou não, enchi caixas de tudo que não me servia mais.
Cansadas de tanto empacotar, minhas mãos encontravam repouso no conhecido teclado à minha frente. Nele, centenas de palavras ganhavam formato, enquanto eu ganhava ar.
Coloquei naquele texto muito mais que frases de impacto, um pouco de mim.
Das lágrimas que derramei quando aprendi, da sabedoria de quem me ensinou, um pouco da compreensão dos amigos que em anos conservei.
E à medida que me esvaziava, sentia ironicamente uma junção nunca sentida. Meus órgãos, músculos, ossos e pele encontravam o sentido de tudo, minha alma.
É, finalmente eu a havia encontrado.
"Cada cor tem o seu cheiro
Cada hora lança sua dor
E dessa insustentável leveza de ser
Eu gosto mesmo é de vida real
(...)
Elevei minha alma pra passear"