Nina e Bono, um ano de amor

Já perdi as contas de quantas vezes prometi não adotar mais animais de estimação. O problema é exatamente esse, a grande estima que se sente por alguém que um dia pode te deixar e te fazer sofrer. Mas, por mais que saiba disso, continuo sendo manipulada por esses filhotes. Basta um olhar, uma patadinha de leve, e lá se vai meu discurso antisofrimento. Arrisco-me, mas, quando não nos arriscamos?
É como dizer que nunca mais vamos nos apaixonar. Todo término de relacionamento chega acompanhado dessa frase, muito embora sejam necessários meses (ou anos) e lá estamos nós, escrevendo cartões de Dia dos Namorados. Esse é o fluxo ininterrupto de conjugar o melhor verbo que existe, amar.
Há um ano uma certa ruiva caminha festeira pelo meu quintal. Pelos fartos, lisos e compridos, patas delicadamente grosseiras, olhar apaixonante de quem não pede carinho, exige.
Nina, a esperta. 
Esperta porque escolheu com quem queria ficar, saindo da caixa em que fora deixada com seus seis irmãos para ganhar os braços de minha irmã e a simpatia de minha mãe. Confesso que tentei me esquivar, mas não deu. Aquela gorduchinha alegre que corria cheia de fofura foi ganhando espaço, chegando devagar onde ficará para sempre.
Bono, irmão da Nina, também ganhou nova casa, novos amigos e um dono babão, meu noivo. O determinado, de grandes patas, postura de príncipe, corpo musculoso, olhar altivo e força de deus grego, não traz mais consigo aquele olhar perdido de quando chegou. Pelo contrário, hoje sabe bem onde quer chegar (de preferência, onde tiver comida).
Dois filhotes que agora são capazes de nos arrastar pelas ruas, guiando os passos de quem um dia soube enxergá-los.
Dois cachorros, dois amigos.
Vê-los doentes aperta o coração, vê-los alegres faz valer o dinheiro da ração, do ossinho, do brinquedo, do remédio. Vê-los assim, em dia comum, dá a certeza de que para amar e ser amado não é preciso nem ao menos saber falar. Não são necessárias palavras em inglês, em português, em latim.
Basta sentir, basta saber, basta ter - sem possuir - um alguém para caminhar ali, ao seu lado, onde quer que você vá. 



[E eles vieram para alegrar e bagunçar os lugares por onde passam. A esperteza e a determinação de quem sabe o que é incondicional. A ansiedade de quem fará de suas possíveis quinzenas de vida, as quinzenas mais felizes que já tivemos. Nina e Bono, um ano de amor.]